terça-feira, 23 de março de 2010

Dia Mundial da Meteorologia

Manuel Costa Alves


(Ciência Hoje - Portugal) No dia 23 de Março de cada ano, as instituições meteorológicas, enquadradas pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), celebram o Dia Meteorológico Mundial. Fazem-no desde 1961 em torno de um tema que todos os países devem abordar a seu modo. Em 2010, passam 60 anos sobre a criação da OMM, como agência especializada do sistema das Nações Unidas, e o tema “60 anos ao serviço da segurança e do bem-estar” não tem o mediatismo do tema, por exemplo, do ano passado: “O Tempo, o Clima e o Ar que Respiramos”. Não gostamos de fazer balanços analíticos da história. Apesar de, hoje por hoje, serem necessários, sobretudo em ciência.

De qualquer modo, vale a pena recordar a importância da cooperação meteorológica internacional que, nascida em 1873, no Primeiro Congresso Meteorológico Internacional realizado em Viena, conheceu, após a criação da ONU, uma forma institucional adequada ao conhecimento operacional de uma atmosfera sem fronteiras.

Nasci para a profissão ainda sem informática e, claro, sem modelação físico-matemática. Na altura, os satélites meteorológicos, ainda de órbita polar, começavam a operar e as imagens que nos traziam mudavam a forma como víamos a organização e evolução dos sistemas nebulosos, agora observados de fora da atmosfera.

Com a modelação, passávamos da previsão subjectiva e com curto alcance temporal para a previsão objectiva, determinística, com prazo que hoje atinge 9 dias. Além disso, com outra metodologia, está aberta uma nova frente de trabalho sobre o alcance sazonal, e até anual, da predictabilidade do comportamento da atmosfera. Neste ponto, há desafios novos impostos pela fortíssima preocupação social de proteger vidas, habitats e ecossistemas. Os sistemas de protecção civil são, hoje, os mais exigentes impulsionadores do desenvolvimento do conhecimento meteorológico, da sua organização e capacidade operacional. Já não são a aeronáutica, a agricultura ou os transportes marítimos.

É o desafio de simular, com grande aproximação e minúcia espacial e temporal (o quando, como e onde), o real futuro do comportamento da atmosfera traduzido em fenómenos adversos. E isto numa atmosfera onde a mudança da sua composição, através do incremento antropogénico das emissões de gases com efeito de estufa, nos fez entrar numa fase de maior variabilidade dos fenómenos e de menor capacidade de resposta aos novos riscos e vulnerabilidades.

Após a eclosão da episódio de 1982-83 passámos a conhecer melhor e a poder encontrar mecanismos de vigilância da formação e evolução da anomalia climática “El Niño” e o de 1997-98 produziu um outro salto que nos vai habilitar a outro tipo de respostas.

É, ainda, do decénio de 1980 a consciência científica sobre a problemática da rarefacção da camada de ozono e o Protocolo de Montreal fica para a história como um exemplo de pronta capacidade de resposta global do sistema das Nações Unidas. No final daquele decénio é aprovada a Convenção sobre as Alterações Climáticas que suporta a Cimeira do Rio onde o conhecimento científico sobre o aumento do efeito atmosférico de estufa começa a impor-se e dará origem ao Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC).

O trabalho do IPCC, conduzido pela OMM e pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente, será reconhecido com a atribuição do Prémio Nobel de 2008. Porém, a consciência científica do problema acaba por ser contrariada pela cimeira política de Copenhaga.

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