quinta-feira, 25 de março de 2010

O renascimento do El Niño

Oceano Pacífico volta a se aquecer com mais mudanças para o clima do Brasil

(O Globo) Causador de alguns dos maiores problemas deste verão, como o calor extremado no Rio e as chuvas contínuas em São Paulo, o fenômeno climático El Niño acaba de ganhar nova força. Medições realizadas pela Nasa nos dois últimos meses mostram que o fenômeno climático, já enfraquecido em janeiro, voltou a aquecer as águas do Pacífico no fim de fevereiro.

A reviravolta pode aumentar a pluviosidade na Região Sul e reduzi-la no Nordeste. Estes efeitos climáticos seriam sentidos até o meio do ano.

O aquecimento das águas superficiais do Pacífico, característico do El Niño, é mantido por ondas gigantes formadas próximo à Indonésia que avançam rumo à América do Sul.

As mudanças são quase imperceptíveis na superfície - as ondas medem, no máximo, 22 centímetros, e a temperatura sobe até 3 graus Celsius. Sob as águas, no entanto, as transformações são suficientes para alterar o clima de boa parte do continente sul-americano, ao mudar a circulação oceânica, a distribuição de chuvas e o regime de ventos.

- A elevação provocada por essas ondas tem a altura de um palmo de mão na superfície, mas, abaixo dela, as transformações podem chegar a 100 metros de profundidade - explica Paulo Polito, professor do Instituto Oceanográfico da USP. - As ondas vão causar uma variação no calor armazenado pelo oceano. Certamente haverá uma mudança, que pode repercutir nos próximos meses, no clima do Oceano Pacífico.

As transformações meteorológicas, no entanto, chegam até a países não banhados pelo oceano Pacífico, como o Brasil.

- As ondas se propagam em diversas direções, atingindo ambos os hemisférios - explica Caio Coelho, pesquisador do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec-Inpe). - Além de atingir os polos, pode influenciar as previsões meteorológicas, principalmente nas regiões Sul e Nordeste.

O impacto provocado pelas ondas na atmosfera é a formação, no Pacífico Central, de um sistema semelhante a uma grande torre, que vai do oceano a nuvens de até 10 quilômetros de altura. O ar sobe para estas nuvens e se desloca, por exemplo, para o Nordeste do país, onde impede as pancadas de chuva.

A região também é prejudicada pela formação de uma zona de convergência ali perto, provocada pelo aumento de temperatura das águas do Atlântico Norte. Já no outro extremo do país, a formação prevista é inversa.

- As correntes de ar formadas pelas ondas provocam o surgimento de um centro de alta pressão no Sul, onde o ar é sugado para cima e propicia grande pluviosidade. Já no Nordeste, forma-se um centro de baixa pressão, em que o movimento do ar é oposto e, por isso, inibe a formação de chuvas - explica Coelho.

Segundo o Cptec, o Sul será a única região brasileira a registrar índice de chuvas maior do que a média histórica até junho. Do Maranhão à Bahia, porém, as chuvas não atingirão o volume normalmente registrado nesta época do ano.

De acordo com Coelho, o El Niño, que surgiu em meados do ano passado, já atingiu sua fase madura. Seus efeitos, portanto, não devem sofrer transformações drásticas. É provável que o fenômeno climático passe por sinais de esvaziamento até julho, quando finalmente deve desaparecer e parar de causar problemas.

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