quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Mais poluição, mais raios

Estudo correlaciona emissão de poluentes com a incidência dessas descargas elétricas nas cidades de São Paulo, Campinas e São José dos Campos. Mais relâmpagos ocorrem nos dias de semana, quando a circulação de veículos é maior.


(Ciência Hoje) Muita gente não imagina, mas a poluição pode gerar mais raios nas cidades. Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) observaram a ocorrência de relâmpagos nas cidades de Campinas, São Paulo e São José dos Campos durante 10 anos, entre 1999 e 2009, e verificaram que essas descargas elétricas são mais frequentes nos dias de semana que nos finais de semana, quando a emissão de poluentes é menor.

“Um ciclo semanal não é algo natural; se acontece, é devido a fatores externos e acreditamos que a causa seja a grande quantidade de aerossóis nas grandes cidades, principalmente vindos dos veículos, que circulam mais durante a semana”, afirmou um dos autores da pesquisa, o meteorologista Wendell Farias, em apresentação do estudo nessa terça-feira (9/8) na 16ª Conferência Internacional de Eletricidade Atmosférica (ICAE).

Os aerossóis são partículas suspensas no ar, menores do que um grão de areia, com cerca de 100 micrômetros de diâmetro, que podem ter origem natural – na vegetação, no sal do mar e nas erupções de vulcões – ou em ações humanas – queima de combustíveis fósseis, alguns processos industriais e agrícolas e minerações.

Farias explica que essas partículas interferem na estrutura das nuvens e, por isso, podem ser responsáveis pela ocorrência de raios. As nuvens formam-se por gotículas da água que evapora da superfície da Terra. Mas, em um ambiente poluído, a água evaporada chega ao céu e condensa em volta das partículas de aerossóis.

Por serem muito pequenos, os aerossóis induzem que as gotículas de água da nuvem sejam menores que o normal e se mantenham suspensas no ar por mais tempo, sem virarem chuva. O problema é que, enquanto a nuvem não precipita, essas gotículas colidem entre si e geram descargas elétricas.

Tendência confirmada
Um estudo muito semelhante, mas de maior magnitude, já havia sido feito nos Estados Unidos. O meteorologista Thomas Bell, da Nasa, observou a ocorrência de raios em todo o sudeste do país de 1998 a 2008 e também encontrou uma forte correlação entre essas descargas elétricas e a concentração de aerossóis na atmosfera.

“O estudo dos aerossóis é relativamente recente, não faz nem 20 anos que começaram as investigações dos efeitos dessas partículas no clima, mas já está claro para nós que eles desempenham um papel importante e precisam ser mais bem compreendidos”, afirmou Farias.

Um relatório do Inpe divulgado esta semana confirma a tendência observada por Farias. Segundo o documento, embora a incidência de raios não tenha aumentado no país como um todo, ela cresceu nas áreas urbanizadas.

Em 2010, houve um aumento médio de 11% na ocorrência de raios em relação aos últimos quatro anos nas cidades com mais de 200 mil habitantes. Entre os 10 municípios com maior incidência, estão os da região metropolitana de São Paulo e do sul do estado do Rio de Janeiro, com exceção de Belford Roxo.

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