(Fantástico) Inpe estima que os raios causem prejuízo de R$ 1 bilhão a economia brasileira e o desmatamento pode aumentar ainda mais essa conta.
Uma série de torres de transmissão, que estão sendo construídas na Amazônia, têm causado preocupação. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, alerta: elas podem atrair mais raios para a região, que já é a mais castigada do país por essas descargas elétricas.
O Fantástico pergunta: o futuro será de mais tempestades? O que há de mais moderno para monitorar os temporais e diminuir os prejuízos? O Brasil vai continuar a ser o país com a maior incidência de raios do mundo? É o que a gente vai descobrir agora, na última etapa da expedição pelo “País dos Raios”!
A Arena Corinthians tem data para ser entregue: 30 de dezembro. de 2013. ‘Faça chuva ou faço sol. Caia ou não raios’.
O local é simplesmente, o cenário para o grande jogo de abertura da Copa de 2014. Dois mil e duzentos operários trabalham 22 horas por dia, correndo para cumprir os prazos. Mas eles correm ainda mais quando dispara o alarme de raios.
“Nós temos muita estrutura metálica, serviços em altura e isso, durante uma tempestade, é uma coisa de risco”, explica Antonio Duchowkis, gerente de sustentabilidade da Arena Corinthians.
Risco que, neste pedaço de São Paulo, é bem alto.
“Caem na Zona Leste 17 raios por quilômetros quadrado por ano, o maior índice da região sudeste do Brasil”, disse Osmar Pinto Júnior, coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Inpe.
A obra da Arena Corinthians trabalha ligada ao sistema de alerta do Inpe - o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O alarme é disparado por uma rede de sensores.
Sensores de alta tecnologia, um deles está instalado na Torre do Centro Técnico Aeroespacial de São José dos Campos.
“Dois sensores permitem detectar, não só as descargas que atingem o solo, mas as descargas que ficam dentro das nuvens ou entre nuvens. Elas tem um papel muito importante que a ciência descobriu só recentemente. Elas são capazes de informar a severidade de uma tempestade”, disse Osmar Pinto.
Hoje, o Inpe já tem 60 sensores como estes espalhados pelo Brasil. Até o fim do ano serão 100 - a segunda maior rede de monitoramento de raios do mundo.
Com a expansão, o sistema vai cobrir melhor a Região Norte - a mais castigada do país dos raios.
“E o futuro ainda projeta que essa quantidade de raios tende a aumentar”, disse Osmar Pinto.
O que deve atrair mais raios ainda para a Amazônia são ‘gigantes’ que começaram a surgir no meio da floresta em 2010. As torres de transmissão que vão levar a energia da hidrelétrica de Tucuruí a Manaus.
São 1.037 torres. Algumas, com até 180 metros de altura. Elas vieram para melhorar a distribuição de energia. Mas podem causar efeito contrário. Você se lembra?
Nós explicamos, semana passada: pontos altos não só atraem raios, eles produzem raios - os raios ascendentes, faíscas que sobem.
A preocupação é que essa quantidade de raios total acabe afetando a performance, o desempenho dessas linhas de transmissão dessa região.
“A única coisa que nós podemos fazer é proteger as nossas linhas através do cabo pararaio. Eles têm uma junção, uma conexão à torre, aonde o raio vai fazer o seu percurso, e no pé da torre, existe uma outra junção - aonde vai escoar toda a energia provida do raio”, disse o diretor técnico da Manaus Transmissora de Energia S/A, Paulo Sérgio de Oliveira.
O clima da Amazônia exige alto investimento em tecnologia contra as descargas atmosféricas. E, mesmo assim, a região não está livre dos apagões. É o preço de se gerar eletricidade no ponto que mais concentra raios no planeta.
Fantástico: Se for um dia sem produção quanto você perde?
“Trezentos e cinqüenta mil reais. Chegam a até três ou quatro picos todo dia. Fora os desligamentos que nós já consideramos normais, disse o diretor de fábrica da Zona Franca de Manaus José Renato de Oliveira Alves.
O Inpe estima que os raios causem prejuízo de R$ 1 bilhão a economia brasileira e o desmatamento pode aumentar ainda mais essa conta.
“Uma pesquisa recente mostra que o desmatamento está fazendo com que a Amazônia fica mais seca. Isso vai diminuir a quantidade de raios. Menos tempestades, mas vão tender a ser mais fortes”, disse Osmar Pinto.
Os raios também são motivo de atenção para o setor aéreo.
Faça chuva ou faça sol, você tem que tá aqui fora...
“Exatamente. Todo dia estamos aqui registrando as condições meteorológicas do aeroporto. A gente registra, no programa. E divulga através de mensagens na rede da aeronáutica”, disse o técnico de meteorologia Leonardo Areias.
Os registros que o Leonardo faz no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, viram estatísticas que ajudam a traçar o plano de voo dos pilotos. A regra é desviar das tempestades.
“Pesquisas feitas ao redor do mundo mostram que aeronaves comerciais são atingidas, em média, de uma a três vezes todo ano. Essa aeronave continua o trajeto dela, pousa e depois do pouso ela tem que sofrer um processo de manutenção”, disse o engenheiro do Instituto de Aeronáutica e Espaço Marco Antônio Ferro.
Para os passageiros, as aeronaves são seguras. A fuselagem metálica isola as correntes elétricas dos raios. É o mesmo princípio do carro, que já mostramos. Mesmo as aeronaves mais modernas, fabricadas com fibra de carbono, têm proteção contra raios.
É que entre as camadas de fibra vai uma tela metálica.
“Por exemplo, uma tela de cobre, de alumínio e aí essa tela passa a ter a função de fazer a dissipação dessa carga pela estrutura da aeronave”, conta a div. de materiais do Instituto de Aeronáutica e Espaço, Mirabel Resende .
Como se fosse um para-raios, digamos, embutido na fibra.
Barco também têm para-raios.
Este é o Tocorimé - uma réplica do Beagle, a caravela que trouxe o naturalista britânico Charles Darwin ao Brasil em 1832. O Beagle foi a primeira embarcação do mundo a ter para-raios.
O Tocorimé, a exemplo do Beagle, tem para-raio.
Então, o perigo das embarcações é quando elas se aproximam da costa.
Charles Darwin registrou em seu diário ter ficado impressionado com as tempestades do nosso litoral.
Para a família real, raios sempre foram um assunto, digamos, sensível.
Os livros registram que Dom João VI quando veio para o Brasil em 1808 trouxe com ele um medo terrível de tudo que se parecesse com raio, relâmpago e trovoada.
“Dom João passou pra história vitimado por uma série de características caricaturais que, de fato, ele tinha. Dizem inclusive que ele se escondia debaixo da cama cada vez que caía um raio”, disse o jornalista e escritor Eduardo Bueno.
E os piores pesadelos de Dom João XVI com os raios acabaram se concretizando de uma maneira irônica.
Um raio derrubou aquela que foi a primeira palmeira imperial plantada por ele, pessoalmente, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Em 1808 quando ele chegou, no dia 7 de março, nos dias seguintes nós tivemos um número de tempestades acima da média para o mês de março no Rio de Janeiro.
“Diversos relatos de membros da comitiva de Dom João VI que vieram ao Brasil. Juntando o relato de uma pessoa com o relato de outra pessoa nós chegamos à 10 dias de tempestade, entre o dia 7 de março e o final de março de 1808. E a média gira em torno de seis a sete. Se nós compararmos com Portugal, Portugal tem 4, 5 dias por ano e aqui nós tínhamos 10 dias num mês, numa cidade”.
O Rio tem mantido um número praticamente constante de tempestades: 30 dias por ano.
O mesmo não aconteceu com São Paulo. No fim do século XIX, a capital paulista registrava 60 dias de tempestade por ano. Hoje são 90 dias. Aumento de 50%.
“A urbanização é a causa desse aumento de tempestades. E agora, com as mudanças climáticas, com os oceanos aquecendo, então, a situação pode se agravar ainda mais”, disse.
Aí, a gente se pergunta: não tem jeito de aproveitar a energia dos raios?
“A energia de um raio não é grande. Porque ele dura uma fração de tempo muito pequena. Então, aproveitar energia dos raio”
A nossa maior fonte de eletricidade, hoje, no Brasil, é essa usina - a Hidrelétrica de Itaipu, na fronteira com o Paraguai.
Para produzir o que Itaipu gera de eletricidade por ano, seriam necessários 500 milhões de raios. E olha que o Brasil, mesmo sendo campeão mundial dos raios, recebe apenas uma décima parte, 10% dessas descargas. E mesmo que o Brasil tivesse tantos raios, aí esbarraríamos em outro problema: a ciência ainda não sabe como capturar a eletricidade dessas descargas atmosféricas.
O que pode, sim, ser uma solução para o futuro é a energia que está dentro das nuvens de tempestade.
“ A energia armazenada é muito grande. Mas não temos nem ideia de como aproveitar essa energia pro futuro”.
Já que ainda não existe tecnologia pra tirar energia elétrica dos raios, o ideal mesmo é a gente aprender a se proteger cada vez melhor.
Vale a pena conferir até porque até agora, a única coisa que a gente sabe com certeza é que tudo indica para um futuro com cada vez mais tempestades por aqui. E que o Brasil continuará a ser, sim, o país dos raios.
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Matéria com vídeo aqui
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E mais:
Saiba como evitar danos aos seus eletrônicos durante temporada de raios (Canaltech)
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