(BBC/Terra) Um projeto de um físico dos Estados Unidos sugere que a construção de muralhas poderia diminuir o impacto e até eliminar os desastres causados pelos tornados no país.
As barreiras teriam 300 metros de altura e se estenderiam mais de 160 quilômetros. A construção seria na região conhecida como Tornado Alley ("Alameda dos Tornados", em tradução livre), área na região central dos Estados Unidos onde ocorrem mais destes fenômenos.
Segundo o professor Rongjia Tao, da Universidade de Temple, na Filadélfia, estas barreiras funcionariam como cadeias de colinas, suavizando a força dos ventos antes que os tornados se formem.
O cientista afirma que a construção custaria US$ 16 bilhões (mais de R$ 37 bilhões), mas poderia economizar muitos outros bilhões de dólares todos os anos.
Tao divulgou seu projeto na reunião da Sociedade Americana de Física, em Denver, no Estado do Colorado (centro-oeste dos EUA).
No entanto, nem todos aceitaram a ideia. Críticos afirmam que o projeto é inviável e vai criar mais problemas do que ajudar a resolvê-los.
Exemplo da China
Todos os anos centenas de ciclones e tornados passam por comunidades no grande corredor norte-sul entre as Montanhas Rochosas (centro-oeste dos EUA) e a cordilheira dos Apalaches (no leste).
O projeto de Rongjia Tao não prevê que muralhas sejam construídas ao redor de cidades, já que elas não teriam a força necessária para bloquear um tornado.
Em vez disso, ele propõe a construção de três imensas muralhas cruzando Estados. Elas suavizariam o choque entre as correntes de ar, a quente que vem do sul e a fria, do norte, que, segundo Tao, formam os ciclones.
"Se construirmos três grandes muralhas de leste a oeste, uma no Dakota do Norte, outra na fronteira entre o Kansas e Oklahoma, e a terceira no sul, entre o Texas e a Louisiana, vamos diminuir as ameaças da Tornado Alley para sempre", disse.
Para provar que seu projeto pode dar certo, Tao lembra o caso da China, onde apenas três tornados foram registrados em 2013, comparados com os 803 nos Estados Unidos no mesmo período.
A China também tem planícies se estendendo de norte a sul do país, mas a diferença é que estas são interrompidas por formações rochosas que se estendem de leste para oeste.
Apesar ter apenas algumas centenas de metros de altura, estas cadeias já seriam altas o bastante para enfraquecer as correntes de ar antes que elas se choquem, afirma Tao.
O físico afirma que estas muralhas também poderão se transformar em belos monumentos, citanto o edifício Comcast, na Filadélfia, que tem cerca de 300 metros de altura e tem vidro reforçado em seu exterior.
"Nossas muralhas de tornado podem até ser construídas com vidro também. Poderá ser um belo marco. Conversei com alguns arquitetos e eles falaram que é possível, levaria alguns anos para terminar, mas poderíamos construir em fases", disse.
Ceticismo
Rongjia Tao ainda não apresentou seu projeto a nenhuma agência do governo americano. E a reação dos meteorologistas presentes à reunião da Sociedade Americana de Física foi de ceticismo.
Harold Brooks, do Laboratório Nacional de Tempestades Graves dos Estados Unidos, disse que a ideia das muralhas "simplesmente não vai funcionar".
Brooks disse, em uma entrevista ao jornal USA Today, que os tornados ainda acontecem em partes de Oklahoma, Arkansas e Missouri, apesar das cadeias existentes naquelas áreas, dispostas na direção leste oeste e de tamanho parecido com o proposto pelo projeto de Tao.
Outro especialista em tornados, Joshua Wurman, do Centro de Pesquisa de Clima Extremo, também não aprova a proposta de Tao.
"Pelo que pude entender, o conceito dele, de como os tornados são formados, é fundamentalmente falho. Meteorologistas ficam constrangidos quando ouvem sobre 'choque entre ar frio e ar quente'. É muito mais complicado do que isto."
Apesar de a maior parte da culpa dos tornados ser do ar quente que vem do Golfo do México, parar esta corrente seria quase impossível, disse Wurman.
"Talvez se ele construísse a barreira na escala dos Alpes - 2 mil a 3 mil metros de altura, iria interromper. Mas claramente também iria causar uma mudança drástica no clima", disse.
E este talvez é outro ponto crucial, segundo Wurman. Um projeto como este, poderoso o bastante para eliminar os tornados, teria efeitos colaterais catastróficos.
"A cura pode ser pior do que a doença. Então a solução para os tornados é não tentar se livrar deles. É melhor (fazer) previsões e alertas para que as pessoas fiquem fora do caminho dele. (Construir) casas melhores. Abrigos melhores", disse.
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