sexta-feira, 3 de junho de 2011

Tornados são resultado de variações térmicas durante tempestades


(Correio Braziliense) Uma espiral de vento que pode girar a até 500km/h e levanta casas, carros e árvores, destruindo tudo o que estiver pelo caminho. Um dos mais fascinantes fenômenos da natureza, do ponto de vista científico, o tornado é também um dos mais destruidores. Desde a semana passada, ocorrências da mais violenta forma de tempestade terrestre devastaram severamente várias cidades em 10 estados dos Estados Unidos. A temporada de tornados norte-americana deste ano é considerada a pior das últimas décadas, devido ao elevado número de mortes, que já chega a 512. O episódio mais recente ocorreu na quarta-feira em Massachusetts, onde pelo menos quatro pessoas morreram.

A violência do fenômeno se deve à velocidade que os ventos atingem no interior da nuvem giratória. Na verdade, um tornado nada mais é do que uma coluna de ar de rotação intensa. Geralmente, ele se forma associado a severas tempestades em locais de temperatura e umidade elevadas. Variações térmicas durante a tormenta produzem intensas correntes de ar, ascendentes e descendentes, que podem formar um turbilhão embaixo de uma nuvem da tempestade. A mudança na direção e na velocidade do vento é chamada de cisilhamento, que dá origem ao redemoinho, denominado vórtice. “Ele desce como uma corda, toca o chão com violência e se recolhe depois”, explica a meteorologista Ana Maria Ávila, diretora do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri). “Ao chegar ao solo, ele funciona como um aspirador de pó: capaz de sugar e jogar longe casas, carros e o que mais encontrar pela frente.”

Até os redemoinhos menos nocivos transformam pequenos objetos em verdadeiras balas de revólver. Quando atingem pessoas e animais, os “tiros” podem ser fatais ou provocar ferimentos graves.

A imagem impressiona pela magnitude da coluna. Ela se caracteriza basicamente pelo formato de funil, cuja parte mais fina toca o solo, e pela velocidade com que o ar gira em seu interior. Em média, esses ventos são de 180km/h, mas podem ultrapassar 500 km/h. A rapidez não é exclusiva do ar na coluna. O tempo de duração de um tornado também é curto: cerca de 20 minutos são suficientes para fazer estragos colossais por onde passa. O cone pode medir de 100m a 1.200m de altura e se desloca de acordo com o trajeto da nuvem de origem, percorrendo aproximadamente 30km. Há registros, no entanto, de funis que percorreram distâncias superiores a 150km.

A intensidade do tornado é avaliada pelo estrago que ele produz. Segundo o especialista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Mamedes Melo não é possível mensurar a velocidade dos ventos instantaneamente, só depois que a espiral já passou e deixou rastros. “Não dá para inserir objetos de medida dentro do cone, a gente avalia a força pelo dano que causa. Quando é muito forte, levanta árvores e até casas. A partir daí são feitos os cálculos.” A intensidade é classificada dentro de uma escala conhecida como Fujita, criada em 1971 e cuja versão atualizada é utilizada desde 2007. Ela se baseia nos prejuízos materiais para calcular a velocidade do vento (veja abaixo).

É possível ainda reconhecer a passagem de um tornado pelo tipo de destruição que ele causa. De acordo com a meteorologista Odete Dias, também do Inmet, objetos atingidos adquirem um formato característico. “A vegetação fica torcida, em forma de espiral. Onde ele passa, deixa o formato, vai moldando tudo.” O dano é diferente do causado por outros fenômenos. Uma tempestade comum não deixa as mesmas marcas, o prejuízo é menos intenso e mais espalhado.

Imprevisíveis
Tornados podem aparecer em qualquer lugar, mas, segundo Melo, regiões continentais são mais propícias pela maior amplitude térmica. “O mar é um regulador. Cidades litorâneas não têm essas mudanças bruscas de temperatura que favorecem o aparecimento desses fenômenos”, explica. Além disso, eles costumam aparecer em determinadas épocas do ano, como os períodos entre estações quentes e frias.

De acordo com Odete Dias, os tornados não se tornaram mais frequentes recentemente, apenas os registros se tornaram mais comuns. “Hoje todo mundo tem celular com câmera e pode filmá-lo. As imagens são mais divulgadas e os casos, mais conhecidos.” O Brasil é um bom exemplo disso. Aqui os tornados são mais comuns do que se imagina, mas é recente a documentação em vídeo. Há relatos de que o pior tornado a tocar o solo brasileiro aconteceu em 2005, no município de Indaiatuba (SP). Os ventos registrados na ocasião atingiram a marca dos 250km/h, alcançando a categoria EF-3 da escala Fujita.

Apesar de ocorrerem mais em regiões próximas ao paralelo 30º, cuja dinâmica favorece o nascimento de frentes frias, Brasília não escapa dos tornados. Também em 2005, uma coluna se formou no Parque da cidade. Como a luz dificultou a visualização da espiral, muita gente não soube que se tratava do fenômeno, que não feriu ninguém e durou cerca de 10 minutos.

Diferente de furacão
É comum a confusão entre tornados e furacões. Ao contrário do que muita gente pode pensar, não são a mesma coisa. Tornados têm diâmetros de centenas de metros, enquanto ciclones tropicais — os furacões ou tufões — têm diâmetros da ordem de centenas de quilômetros. Os tufões surgem no mar, duram mais tempo e enfraquecem ao chegar ao continente. Por isso, tendem a ser menos nocivos que os tornados.

Alameda dos Tornados
Uma das localidades mais conhecidas pelo aparecimento de tornados é a região central dos Estados Unidos, apelidada de Tornado Alley (Alameda dos Tornados) pela grande incidência dos fenômenos nas planícies entre as Montanhas Rochosas e os Montes Apalaches. Na América do Sul, o centro-sul do continente é mais favorável, nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

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