segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Meteorologia: um verdadeiro “hieróglifo celeste” na mente do observador nas prévias do “acampar” astronômico.

Vale a pena o astrônomo observador considerar os ditados e crendices
populares sobre chuva e bom tempo?


(Audemário Prazeres) No planejamento prévio dos nossos trabalhos observacionais, sempre nos
preocupamos com inúmeros itens como: mapas celestes, colimação dos instrumentos, ajustes dos acessórios, referências de efemérides, acomodação dos olhos, etc. Mas existem dois empecilhos que sempre nos preocupa: um é a poluição luminosa do local em que realizaremos a observação, onde a solução é previamente escolhermos um local em que tenhamos um céu mais transparente e livre o máximo possível da intensidade luminosa. Outro empecilho que nada podemos driblar, ao qual é natural, é a presença de nuvens seja em grande quantidade ou em pequena, justamente sob o ângulo de sua visada no momento da observação ou registro do astro. Para esse tremendo obstáculo, resta-nos apenas ter paciência. Mas existe outro fator igualmente relevante que devemos considerar quando estamos no Campo, que é a incidência de insetos durante o momento das observações. O intuito desse artigo é fazer com que o astrônomo amador sistemático se familiarize mais com os aspectos atmosféricos em suas observações, e, por conseguinte, fazer assimilar também as interpretações baseadas na cultura popular.

Recentemente, tive acesso a um trabalho intitulado “*A previsão do tempo com o auxílio dos ditos populares*”, que foi publicado na Revista Geografia. Pois bem, lá encontrei um antigo provérbio da China que afirma: “ *Mosquitos voando em bando é sinal de chuva*”. Imediatamente me fez lembrar os momentos convividos com esses invertebrados de exoesqueleto quitinoso, durante a observação e registro do Varuna. Na ocasião da célebre observação e registro da ocultação da estrela UCAC2 41014042, pelo asteróide (planetóide) transneptuniano Varuna, onde fui o coordenador da equipe pioneira em 19 de Fevereiro de 2010, e fiz citar no nosso relatório final a seguinte frase: “*Como estávamos em um meio rural a incidência de mosquitos e besouros entorno de nós era algo bem latente”.* De fato, a quantidade de insetos presentes onde estávamos era quase insuportável. Em um dado momento, tínhamos que enrolar a cabeça com um pano devido à imensa proliferação de insetos a nossa volta. Coincidência ou não, no instante do registro do raro fenômeno astronômico, o céu estava encoberto e justamente no horário da ocultação, abriu-se uma janela onde nos foi possível fazer o registro. Foi esta lembrança dos insetos - não muito agradável, diga-se de passagem – que me inspirou escrever esse artigo, ao qual o dedico aos astrônomos amadores quando forem planejar seus “acampamentos observacionais”, no intuito de considerar os aspectos meteorológicos antes das suas observações.

Existem inúmeras referências que apontam relações bem fidedignas do comportamento dos animais ante a aproximação da chuva ou a volta do bom tempo. Essa possibilidade de acreditarmos não é remota, se partirmos do princípio que eles estão mais próximos da natureza. É bom que se ressalte que, quando nós astrônomos amadores sistemáticos observamos constantemente o céu, nos torna um “hábito” olharmos o comportamento meteorológico independente dos instantes prévios de uma dada observação. Particularmente estou, sempre que possível, de cabeça erguida tecendo minhas conjecturas diante do comportamento da nossa atmosfera. Assim, recomendo a todos que se dediquem a familiarização do aspecto em que se mostra o céu. Tenham noções conceituais dos tipos de nuvens presentes em sua localidade; associem aspectos vistos no céu com a temperatura colhida em um termômetro com registro de máxima e mínima; façam análises como se encontra a intensidade e direção dos ventos olhando o comportamento das folhagens. E também associem esses fatores ao comportamento encontrado nos animais e até em algumas plantas. *Acreditem isso não é pecado!*

Outro ponto a considerar sobre as previsões do tempo é o aspecto cultural que nada mais é do que um legado de crendices e verdades herdado dos nossos antepassados. Um exemplo clássico dessa tradição nos faz ao escutar a música de Luiz Gonzaga (que este ano de 2012, o Estado de Pernambuco comemora em peso o centenário do seu nascimento) intitulada “O Xote das Meninas”. Nosso *Rei do Baião* canta o seguinte trecho que é belíssimo, a saber: “*Mandacaru quando flora na seca é um sinal que a chuva chega no sertão*... ”.

Na condição de também ser, há 26 anos, um Trilheiro e conseqüentemente instrutor em implantação e planejamento em trilhas ecológicas, acampamentos e técnicas de resgate e sobrevivência, constato que a Biometereologia - que é o estudo da influência do tempo e clima sobre os animais - ser comprovado em alguns comportamentos encontrados nos mesmos. Se refletirmos que os animais conservam princípios de reações primitivas frente a alguns fenômenos naturais e possíveis agressões partidas deles, podemos constatar quando observamos, por exemplo, o comportamento dos felinos de uma maneira geral, onde a condição de esfregarem uma das patas atrás da orelha e por conseguinte, ocorrer indícios de chuva (ou céu encoberto), e até chover mesmo de forma torrencial. Fatos dessa grandeza, não podemos simplesmente ignorar e associar como crendices entre os nativos mateiros ou profissionais trilheiros. Afinal, existem inúmeros estudos científicos que apontam que os felinos de uma maneira geral (até o seu gato), são sensíveis às mudanças do campo elétrico da atmosfera e, por conseguinte, apresentam um comportamento agitado na alteração do clima quando antecedem as chuvas.

É certo que nós astrônomos amadores, por sermos observadores cuidadosos (sistemáticos), podemos prever (e por vezes acertar), qual o tempo vamos ter com algumas horas antes das nossas observações. Pois, além de consultarmos os institutos de Meteorologia, identificamos os tipos de nuvens vistas no céu e associamos o movimento delas com as correntes de vento e temperatura encontradas no local do nosso “acampamento observacional”. É bem verdade, que os profissionais dedicados nas pesquisas Meteorológicas não conseguem por vezes acertar em suas previsões. Quem não teve experiências como “*dia de tempo bom, temperatura estável, sem nebulosidade*”, e este dia ser chuvoso! - Caso o leitor deseje treinar sua percepção no entendimento do comportamento atmosférico, afirmo como dica, procurem na Internet ou em livros imagens dos dez tipos principais de nuvens conforme publicado na revista da UNESCO, O Correio de outubro/novembro de 1973), a saber:


*NUVENS DE DESENVOLVIMENTO VERTICAL: *
a) *Cúmulos-Nimbos:* Nuvem em forma de montanha ou torre, pesada e densa, que se desenvolve verticalmente chegando a grandes alturas. No seu topo, ela se achata e se espalha em forma de bigorna ou de uma grande pluma. – É a nuvem dos aguaceiros.

b) *Cúmulos:* Nuvem baixa, geralmente densa e bem delimitada. Eleva-se em forma de cúpula ou torre. A parte superior apresenta protuberâncias que se assemelham a uma couve-flor. – Quando há pouca umidade e leves correntes de ar, os cúmulos indicam bom tempo. Mas quando se avolumam durante o dia podem trazer tempestades.

*NUVENS BAIXAS:*
a) *Estratos:* Camada de nuvens geralmente acinzentada, muito parecida com neblina. O Extrato aparece a uns 100 metros do solo e se espalha, cobrindo amplas áreas. Às vezes surgem como manchas irregulares. No inverno geralmente ficam no céu o dia todo. No verão se dispersam e o tempo é bom;

b) *Estrato-Cúmulo:* Manto cinzento esbranquiçado de nuvens baixas em forma de rolos alongados que mal encobrem o Sol. Raramente trazem chuva, exceto quando se transformam em Nimbos-Estrato, o que acontece às vezes.

· *NUVENS MÉDIAS: *
a) *Nimbos-Estrato:* Massas de nuvens cinzentas, escuras, espessas e geralmente de aspecto assustador. Nuvens irregulares e baixas aparecem freqüentemente sob a camada principal. – É a nuvem típica de chuva.

b) *Alto-Estrato:* Formam um espesso manto branco ou cinzento pelo céu, mas em determinados pontos as nuvens são suficientemente ralas para deixar transparecer o Sol. São nuvens de estrutura fibrosa de diferentes graus de opacidade. – Essas nuvens são prenúncio de chuva miúda.

c) *Alto-Cúmulos:* Céu “malhado”. São nuvens brancas ou cinzentas em mantos ou camadas. Podem aparecer em flocos pequenos e isolados, faixas paralelas ou massas achatadas, ligeiramente curvas. O Sol aparece às vezes por entre as camadas superiores. – Céu malhado é sinal de mau tempo acentuado.

*NUVENS ALTAS:*
a) *Cirros-Estrato:* O céu apresenta-se esbranquiçado e leitoso, como se envolto em véus. As nuvens não são suficientemente espessas para encobrir o Sol. O Cirro-Estrato produz um halo no céu em torno do Sol e da Lua. – Aparecem freqüentemente após os cirros, indicando a chegada de mau tempo;

b) *Cirros-Cúmulos:* O céu parece formado de uma porção de pequenos tufos de algodão (quando criança eu dizia que “*o céu estava cheio de carneirinhos*”). Geralmente se arrumam em rugas, camadas, massas, unidas ou separadas, em disposição mais ou menos regular. – Aparecem freqüentemente com Cirros (precedendo a chegada do mau tempo) e também antes das tempestades;

c) *Cirros*: Nuvens transparentes, esbranquiçadas e ralas, formadas por delicados filamentos, manchas brancas ou faixas estreitas. Os filamentos podem ser paralelos ou criar formas confusas e embaralhadas. Os Cirros são formados por pequenos cristais de gelo. – Quando os Cirros invadem o céu, é sinal de mau tempo;

Vale ressaltar, para reflexão, que o comportamento no céu conforme descrevo as principais nuvens, coincide com a cultura e tradição popular encontrados em alguns provérbios. Observe os seguintes provérbios:

· “*Um circulo grande em volta da Lua é sinal de chuva iminente. Um circulo pequeno é sinal de que a chuva demora*” – Notem que são características da presença de nuvens do tipo* Cirros-Estrato *que indica realmente a chegada de um mau tempo. Essa característica visual dos halos
(círculos) em volta do Sol e principalmente da Lua, são inclusive questionamentos comuns entre os leigos, que nos questionam por entenderem ser algum tipo de fenômeno astronômico;

“*Via – Láctea transparente, semana excelente*” – Neste caso, constatamos a presença de *Estrato-Cúmulo*, pois como é uma nuvem que se espalha de forma baixa, nos permite observar o firmamento com maior transparência durante dias;

· “*Nuvens vermelhas ao pôr do Sol anunciam calor, nuvens negras anunciam chuva*”. Aqui constatamos serem os *Cúmulos. *Afinal, com pouca umidade e leves correntes de ar os faz deixar essas nuvens paradas por um determinado tempo em vertical, indicam bom tempo e se tornam de cor vermelha tendo o Sol na linha do horizonte. Mas quando se avolumam (ficando um manto negro) durante o dia antes do pôr do Sol, podem trazer chuvas;

Concluindo, este artigo não é uma apologia cabal de que devemos crer nas crendices populares e comportamentos descritos em provérbios. Devemos sim, fazer uso nas previsões meteorológicas diante do planejamento em nosso “acampamento observacional”, conforme a moderna Meteorologia nos faz informar. Que, por sinal, é bom ressaltar haver respeitáveis profissionais meteorologistas que fazem uso de equipamentos de absoluta tecnologia, onde esses dados convergidos em supercomputadores nos mostram previsões extremamente aceitáveis. Afinal, o dinamismo que envolve os fatores que interferem o Clima é adverso, e nesse contexto, se pudermos somar em nossas previsões os conhecimentos qualificados como informal vão nos ajudar saber se temos ou não o desejado “*céu de Brigadeiro*” em nossas observações.

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