segunda-feira, 28 de maio de 2012

Meteorologistas percorrem o país para estudar chuvas

Pesquisadores do Inpe pretendem aprimorar modelos de previsão e prevenir catástrofes





(O Globo) Há quase dois anos um grupo de cientistas, munidos de um radar e uma penca de equipamentos, percorre o Brasil em busca de chuvas. Neste período, passaram por Alcântara (MA), Fortaleza, Belém, Vale do Paraíba (SP) e, agora, estacionaram em São José dos Campos. Desde ontem, os envolvidos com o Projeto Chuva, nome da iniciativa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais que abrange uma dúzia de instituições, apresentam no Inpe 59 artigos produzidos na caravana.

Coordenados pelo meteorologista Luiz Augusto Toledo Machado, os pesquisadores instalam-se em cada cidade na época de chuvas — no Norte e no Nordeste, de abril a julho; no Centro-Sul do país, entre o fim e o início do ano. Gastam de dois a quatro meses em cada ponto onde se instalam. Em cada um veem novos tipos de precipitações, enriquecendo uma ciência ainda incipiente no país, a previsão imediata.

— Levamos nossos equipamentos principais, como um radar de dupla polarização. Normalmente temos de usar guindastes para instalá-lo no topo de prédios — conta Machado. — Em Fortaleza, construímos uma torre para ele. O resto do maquinário fica em um contêiner. Enquanto seguimos com nossa campanha científica, aproveitamos a infraestrutura deslocada para prestar serviço meteorológico de previsão imediata junto à Defesa Civil de cada região.

Natureza de nuvens e tamanho das gotas
Tudo o que remete a tempestades interessa ao grupo: quanto duram estas precipitações extremas, qual a natureza das nuvens, o tamanho das gotas. A frequência de raios também é analisada pelos cientistas. São dados importantes, segundo Machado, para incrementar a climatologia regional e sua resolução — possibilitando, assim, saber qual será a intensidade das chuvas e quando elas podem chegar em cada região da cidade.

Os equipamentos seguem com o projeto para a cidade seguinte, mas fica um legado, como comprova o seminário apresentado em São José dos Campos. Em cada ponto já visitado, as apresentações dos pesquisadores reúnem, pelo menos, cem acadêmicos interessados em seguir a área de previsão imediata em meteorologia. A falta de profissionais qualificados no setor em diversas partes do país contribui para o grande número de vítimas de desastres naturais.

— Também sensibilizamos a Defesa Civil e fazemos com que desloque mais pessoal para áreas de risco — acrescenta Machado. — Estas ações preventivas são as maiores heranças deixadas por nossa caravana.

Fenômenos regionais, alguns ainda pouco estudados, pautaram a escolha das cidades visitadas. Em Fortaleza, por exemplo, os climatologistas miraram a formação de nuvens quentes — que evoluem sem formar partículas de gelo. Já no Vale do Paraíba, chamaram atenção as tempestades locais, consequências das zonas de convergência do Atlântico Sul.

Em novembro, a caravana seguirá para Santa Maria (RS), e, já no ano que vem, para Manaus e Brasília. O projeto deve seguir até 2014. O itinerário já pronto e o orçamento apertado, de cerca de R$ 2 milhões, não permite retorno.

— Recebemos solicitações recentemente para voltar ao Nordeste, mas infelizmente não temos verba para deslocar nossa equipe — lamenta Machado.

O aumento na ocorrência de eventos extremos nos próximos anos é uma certeza entre climatologistas. Um exemplo é a Bahia, dividida atualmente entre a seca e as enchentes. A estiagem que atinge o Norte da Bahia levou, até agora, 242 municípios ds região a declararem estado de emergência, forçando a liberação de cerca de 3 mil toneladas de arroz e feijão para o semiárido. Já na região metropolitana do estado, choveu, até o dia 17, mais do que o esperado para todo o mês de maio. Há, em Salvador, pelo menos 100 mil pessoas em áreas de risco.

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