sexta-feira, 7 de junho de 2013

Brasileira registra tempestade que matou caçador de tornados nos EUA

Pesquisadora de raios, Carina Schumann integrava grupo de Tim Samaras. Americano, seu filho e outro caçador morreram na última 6ª em Oklahoma.



(G1) Uma brasileira que pesquisa raios ascendentes no Brasil e nos Estados Unidos integrava a equipe do caçador de tornados Tim Samaras, um dos mais reconhecidos investigadores destes fenômenos meteorológicos, que morreu na última sexta-feira (31) quando perseguia tornados que atingiram o estado de Oklahoma.

Carina Schumann, mestre em geofísica espacial e integrante do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Elat-Inpe) acompanha desde o fim de maio uma expedição pelos estados de Dakota do Sul e Kansas em busca de raios.

Ela busca mais especificamente os raios ascendentes, descargas artificiais que partem de construções elevadas, como torres de telecomunicação.

Na última sexta, enquanto acompanhava um grupo, em que também estava Tim Samaras, uma forte tempestade se formou próximo a Oklahoma City.

Carina contou ao G1, direto dos Estados Unidos, que Samaras havia emprestado parte de seu equipamento para a Universidade de Dakota do Sul com o objetivo de auxiliar na pesquisa sobre raios e disse que não iria atrás de tornados naquele período.

“Perguntaram a ele se ia caçar raios e ele confirmou que sim. Sabendo da tempestade, descemos do Kansas para Oklahoma”, disse Carina. Ela contou que, durante a tempestade, Tim deu orientações para manter a equipe longe do fenômeno e seguiu para Oklahoma City, enquanto o restante dos pesquisadores, incluindo Carina, seguiu para Tulsa, onde aguardariam o tempo melhorar. Não houve mais contato após a divisão do grupo.

"No dia seguinte veio a confirmação da morte. A primeira reunião que tivemos após o fato foi bem pesada, pois todo mundo queria saber de tudo. Mas chegamos à conclusão de que ele morreu fazendo o que gostava, a paixão dele", conta.

Magico de Oz inspirou americano
Tim Samaras, seu filho Paul e Carl Young morreram ao ser pegos por um dos tornados que atingiram El Reno, a oeste de Oklahoma City, revelou a direção do projeto Tactical Weather Instrumented Sampling in Tornadoes Experiment (Twistex).

O interesse do pesquisador pelos tornados começou quando ele tinha seis anos, depois de assistir ao filme "O Mágico de Oz", e passou mais de 20 anos se dedicando ao cálculo de previsões de quando um tornado atingiria a terra, e que caminho ele faria.

Entre os equipamentos usados por ele em suas pesquisas estavam câmeras de alta resolução que "ofereceram um olhar nunca antes visto de dentro de um tornado", diz a revista “National Geographic, que publicou uma reportagem sobre a morte do especialista.

Caçadores de raios brasileiros continuam os trabalhos
Desde 2012, Carina e seu orientador, Marcelo Saba, investigam o surgimento de raios ascendentes no Brasil. O estudo do tema será a tese de doutorado da brasileira, que deverá ser concluída em 2016. Durante o inverno brasileiro ela deve permanecer nos EUA em busca de grandes tempestades.

Para saber onde e quando se formarão grandes nuvens de chuva no território norte-americano, Carina conta que os pesquisadores utilizam radares meteorológicos e imagens de satélite. Ao descobrir as coordenadas “saem correndo” atrás do fenômeno.

No Brasil, a caça aos raios ascendentes conta com a ajuda de equipamentos especiais instalados em São José dos Campos, no interior paulista, no Pico do Jaraguá e na Avenida Paulista, dois locais de São Paulo, município que registrou apenas 57 raios ascendentes apenas em 2012.

Essas descargas partem de construções elevadas, como torres de telecomunicação, em direção às nuvens. Isso ocorre porque nuvens carregadas atraem cargas elétricas no solo, que se concentram em pontos altos. Tais raios não podem ser vistos a olho nu, nem registrados por máquinas fotográficas comuns. Para capturar as imagens, os pesquisadores usaram câmeras capazes de capturar 4 mil quadros por segundo.

Do solo para o céu
De acordo com Marcelo Saba, cinco raios ascendentes ocorreram na Avenida Paulista em 2012, região paulistana com grande concentração de torres de transmissão no alto de prédios.

“[Os raios ascendentes] são um impacto da urbanização. Se não tivessem torres de transmissão, torres de celulares ou de energia, esses raios não seriam produzidos no sentido de baixo para cima”, explica.

Para investigar melhor o assunto, uma pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) vai monitorar por dois anos os fenômenos no país. Com orçamento de R$ 250 mil, o foco do projeto vai ser entender a formação dos raios ascendentes para melhorar as condições de proteção de torres mais altas.

De acordo com o Elat, todos os anos caem no Brasil 57,8 milhões de descargas atmosféricas, país com maior incidência de raios por ter o maior território localizado em área tropical (onde ocorrem mais tempestades). Os raios ascendentes correspondem a apenas 1% deste total, por isso são tratados como fenômenos raros.
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