terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Veja perguntas e respostas sobre extremos de calor e frio no mundo

Mês de janeiro foi marcado por quadro de -50°C nos EUA a 44ºC no Brasil. Maiores frequência e intensidade podem ter ligação com aquecimento global.


(G1) As temperaturas negativas registradas nos Estados Unidos e na Europa em janeiro, ao mesmo tempo em que incêndios provocados pelo calor escaldante atingiram Chile e a Austrália – os termômetros no Brasil também estão altos – podem indicar que o planeta vive um desarranjo climático.

De acordo com especialistas ouvidos pelo G1, os eventos do clima, com frio ou calor extremos, são comuns, mas o fato de eles ocorrerem com mais frequência e intensidade nos últimos anos pode ter ligação com as mudanças climáticas.

Veja abaixo algumas perguntas e respostas sobre o assunto:

- Calor, frio, neve, chuva, incêndios florestais... tudo ao mesmo tempo. Esses fenômenos são consequências da mudança climática global?
Ainda é prematuro dizer, de acordo com cientistas. Eventos climáticos com frio ou calor extremos sempre ocorreram e vão ocorrer no planeta, pois o clima tem como característica a alta variabilidade. Mas, segundo José Marengo, pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre, ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), eventos extremos mais frequentes e intensos já são perceptíveis e podem ter relação com as mudanças climáticas.

- O que são as mudanças climáticas?
São alterações do clima provocadas pelo aumento da temperatura global, consequência de um “efeito estufa enlouquecido”, ou seja, uma capacidade exagerada da atmosfera de reter calor devido à presença excessiva de gases-estufa (como o dióxido de carbono e o metano) lançados na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, e o desmatamento e queima de áreas florestais.

De acordo com os climatologistas, uma maior concentração de CO2 na atmosfera significaria mais energia armazenada. Um dos modos de dissipar essa energia é através de fenômenos climáticos extremos.

- Mas se é aquecimento global, por que nos Estados Unidos e no Canadá o clima é de 'congelar'?
Os especialistas explicam que aquecimento global não significa que todo o planeta pode esquentar, mas sim que pode ocorrer um desarranjo global. Isso possibilita, por exemplo, numa mesma semana, sensação térmica de -50ºC nos EUA e termômetros marcando 50ºC na Austrália e no Brasil.

Os dois países foram afetados pelo vórtice polar, fenômeno climático que normalmente acontece na região do Círculo Polar Ártico, mas que sofreu alteração em sua dinâmica de circulação, permitindo que massas de ar que ficavam circunscritas ao Ártico atinjam latitudes mais baixas, como os dois países.

Isto permitiu que regiões dos EUA, como Wiscosin, registrassem -38ºC e tivessem sensação térmica de -50 ºC, ou ainda o congelamento de parte das famosas quedas d’água das Cataratas do Niágara, localizada na fronteira do país com o vizinho Canadá.

De acordo com Paulo Artaxo, físico da Universidade de São Paulo e integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, o degelo no Ártico, região mais afetada pela elevação da temperatura global, pode ser uma resposta para os fenômenos intensos. A teoria foi apresentada por outros cientistas, incluindo o consultor científico da Casa Branca, o pesquisador John Holdren, em vídeo postado pelo governo americano.

- Qual é a explicação para o calor escaldante na Austrália?
Uma extensa onda de calor atingiu grande parte do país, que registrou em algumas regiões temperaturas acima de 50ºC. Também contribui para o calor a irregularidade nas chuvas, que costumam refrescar o país neste período do ano.

Enquanto a precipitação não vem, incêndios acometem parte do território australiano, como na região de Perth, onde a temperatura chegou aos 44ºC este mês. O calor em excesso provocou incêndios que mataram de milhares de morcegos em Queensland.

Segundo cientistas, as temperaturas do país vêm se mantendo altas durante os verões. O departamento climático do país informou que 2013 foi o ano mais quente desde 1910, quando começou a ser feito o registro de temperaturas do país.

- É comum chuvas e calor escaldante no Brasil ao mesmo tempo?
Sim, segundo meteorologistas. O verão no país é conhecido por registrar fortes chuvas em determinadas áreas e outras, concomitantemente registrarem céu limpo e calor intenso.

Fenômenos como as chuvas que atingiram Itaoca, no interior de São Paulo, são eventos típicos da estação. O que não é normal, segundo os cientistas, é a frequência e intensidade desses acontecimentos -- fatores que estariam ligados às mudanças climáticas.

Outra característica distinta deste verão é uma irregularidade no nível de precipitação em diferentes regiões do Brasil, que têm registrado forte calor devido à presença de uma massa de ar seco.

No Rio de Janeiro, por exemplo, os termômetros registraram no início deste ano sensação térmica de 50ºC. Em São Paulo, o mês de dezembro de 2013 foi o segundo mais seco desde 1933, quando iniciaram as medições na estação meteorológica da Água Funda, Zona Sul da capital paulista.

Segundo a meteorologista Samantha Martins, do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP), essa irregularidade de chuvas não é muito comum para essa época do ano, mas pode ser classificada como fenômeno extremo.

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