terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O penoso clima de 2013, em vídeo



(Teoria de Tudo - Folha) Um dos exemplos mais incríveis que já vi sobre como opera o clima global é este vídeo acima, produzido pelo climatologista Mark Higgins, da Eumetsat, agência europeia de satélites meteorológicos. O filme é uma composição de dados de satélites com visão infravermelha –que monitoram nuvens de tempestades– e montagens fotográficas do projeto Blue Marble, da Nasa –que mostra a Terra sem nuvens. A junção dos dois bancos de imagem produz um retrato fiel do ciclo anual do clima.

É um retrato fiel de 2013, porém, que não foi um ano muito típico. Segundo a Noaa (agência atmosférica dos EUA), pode ter sido o quarto ano mais quente da história humana. O impacto disso é visível no mapa: no mês de setembro [5m30s], quando a cobertura de gelo no polo Norte chega ao mínimo. Foi o sexto pior derretimento registrado na história.

Outros fenômenos atípicos se destacam no vídeo de oito minutos, notadamente o tufão Haiyan [6m45s], o mais letal da história das Filipinas, com mais de 6.000 mortes contabilizadas até agora. Ainda não há estudos que liguem as temperaturas de 2013 especificamente à formação do Haiyan, mas já existe uma evidência estatística razoável de que o aquecimento global deve elevar o número de tufões e furacões mais fortes.

Mudanças climáticas à parte, é interessante notar também no vídeo os ciclos diários do clima global, visíveis sobretudo pelas nuvens que brotam na linha do equador como se fossem cuspidas por uma maria-fumaça. São as chuvas de fim de tarde de zonas equatoriais. (As nuvens mostradas no vídeo, em razão da detecção infravermelha, são aquelas mais altas e mais frias, o que oferece uma correlação razoável com tempestades.)

Essas nuvens perto do equador a chamada zona de convergência intertropical, onde ventos do sul se encontram com ventos do norte, forçam ar úmido a subir e geram tempestades tropicais. A linha da zona de convergência se move um pouco para o norte no meio do ano [4m05s], em razão da inclinação diferente da Terra em direção ao Sol.

Outro fenômeno fácil de notar é o fluxo de grandes tempestades se movendo de oeste para o leste. O fenômeno é mais visível ao longo do sul dos oceanos, mas é espelhado pelo movimento de outras tempestades, no hemisfério norte.

Essas são tempestades geradas pela ação das chamadas correntes de jato, que trafegam acima da estratosfera. Elas são uma consequência natural da rotação da Terra e do choque do ar aquecido da região tropical com o ar frio das regiões polares.

Por causa da rotação do planeta, esse choque de ar tende a formar tempestades em espiral, que eventualmente evoluem para furacões e tufões, como o Haiyan.

Correntes de jato percorrem os círculos polares numa trajetória ondulada, como uma cobra, uma movimentação possível de ver no vídeo em algumas partes. Esse padrão ondulado permite a penetração de mais ar frio em zonas tropicais e mais ar quente em zonas temperadas, levando a extremos climáticos como a onda de calor do ano passado nos EUA.

Ainda não há, aparentemente, muitos estudos ligando a mudança climática a essas correntes de jato mais onduladas e tortuosas, que bagunçam todo o clima mundial, principalmente no hemisfério norte. Meteorologistas como Jeff Masters, do site Weather Underground, porém, relatam que esse padrão tem sido cada vez mais comum.

Independentemente desse evento específico, porém, é razoável dizer que o aquecimento global já é um fenômeno visível aos satélites. Se o que falta aos céticos da mudança climática é “ver para crer”, uma sequência de vídeos como esse da Eumetsat ofereceria uma baita revelação.

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