sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Estudo sugere que o El Niño não é o único culpado pela falta de chuva na Região Sudeste

De acordo com pesquisa, parece que nem tudo pode cair na conta do fenômeno


(Galileu) Com a crise da água no estado de São Paulo muitos vêm se perguntando: se a diminuição das chuvas fosse prevista com maior antecedência, haveria possibilidade de prevenir a situação?

Para um grupo de pesquisadores do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, há a possibilidade de calcular com maior precisão variações de chuva e umidade na América do Sul, dados capazes de auxiliar o governo a agir mais cedo. Combinando estimativas do passado, os cientistas conseguiram reconstruir com modelagem matemática a temperatura da superfície do Atlântico Sul nos últimos 12 mil anos.

Esse trabalho foi capaz de ajudar a compreender as temperaturas médias no oceano e a umidade no continente. Liderado por Ilana Wainer, o estudo publicado na Scientific Reports mostrou que o aquecimento das águas do Atlântico foi responsável pelo maior volume de chuvas na região Nordeste e menor quantia no Sudeste.

A mesma pesquisa também mostrou que quando o oceano passou por um resfriamento, os efeitos foram outros. Neste caso, o inverso: Nordeste com períodos de secas mais severas e Sudeste mais chuvoso.

A mudança de temperaturas – quando o oceano parecer ter um polo mais quente e outro mais frio (e vice-versa) – possui o nome de Dipolo Subtropical do Atlântico Sul. Para Luciana Figueiredo Prado, coautora e aluna de Ilana, esse estudo pode ajudar a compreender a questão das chuvas: “Caso tenha existido nesses 12 mil anos, esse fenômeno pode ter influenciado de modo importante a distribuição das chuvas no continente”.

Para especialistas, essa pode ser uma conclusão surpreendente. A falta de chuvas vinha sendo atribuída ao fenômeno El Niño, quando flutuações na temperatura das águas superficiais do Pacífico ocorrem em pequenos períodos, mas esse estudo mostra que também há influência da variação do Atlântico Sul. Cerca de 20% das secas pode estar atrelado a isso.

Ilana Wainer acredita, inclusive, que isso é um fator muito importante para entender todo o problema de chuvas na região paulista: “Mostramos que as condições do Atlântico Sul também são importantes para definir os cenários de precipitação na América do Sul. E isso não deve ser ignorado”.

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