quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Setembro tropical trouxe cinco vezes mais chuva a alguns pontos do país

Depressão imóvel no Atlântico está a despejar ar húmido de sudoeste no continente. Aguaceiros mantêm-se por mais alguns dias.



(Público - Portugal) O Setembro tropical que estamos a viver – com noites quentes, nuvens negras, trovoadas e uma humidade que cola ao corpo – já fez chover cinco vezes mais do que o normal nalguns pontos do país.

Na lógica meteorológica do cidadão comum, Setembro deveria ainda ser um mês de calor, mas seco, como costuma ser o Verão na Península Ibérica. Mas um centro de baixas pressões estacionado no Atlântico, entre o continente e os Açores, está a dar a volta ao que se imagina ser o normal.

As depressões atmosféricas põem o ar a circular no sentido contrário dos ponteiros do relógio. Com isso, Portugal está a receber o ar de sudoeste, que normalmente está mais carregado de humidade. Além disso, a própria depressão está, por assim dizer, imersa numa massa de ar húmido, tropical.

“É normal, estamos no fim do Verão, ainda há muita energia no Atlântico”, explica a meteorologista Ilda Novo, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). “O que é anormal é a persistência desta situação depressionária, que se tem mantido na região por vários dias”, completa.


Os portugueses sabem bem disso. Quem escolheu Setembro para as suas férias deparou-se com inoportunos dias de chuva. Até esta quarta-feira, o IPMA classifica o mês como “muito chuvoso” ou “extremamente chuvoso” praticamente em todo o território continental, excepto em parte da região centro e no Sotavento algarvio.

Em vários pontos, a quantidade de precipitação é muito superior à normal para esta época. No Barreiro, já é cinco vezes maior; em Setúbal, 4,1 vezes; e em Santarém, Alcácer, Guarda e Lisboa, 2,6 vezes.

Possivelmente não será, porém, o Setembro com mais precipitação na história meteorológica do país nos últimos 80 anos. Até agora, está entre os 25 mais chuvosos desde 1931. A expectativa é que o mês termine entre os 15 mais chuvosos, dada a previsão do tempo para os próximos dias.

Com a depressão a mover-se progressivamente, os aguaceiros devem manter-se pelo menos até sábado, em boa parte do país, mas darão o lugar a um céu mais aberto e menos instável a partir de domingo ou segunda-feira.

Embora os termómetros não estejam muito altos, a sensação geral é de que o país está nos trópicos, com a roupa húmida a colar à pele. “As temperaturas não estão demasiado elevadas. No entanto, como a humidade relativa está demasiado alta, acima dos 90%, e o vento não tem sido muito intenso, isto faz com que tenhamos uma sensação térmica muito maior”, afirma Ilda Novo.

O IPMA está a investigar a ocorrência de dois possíveis tornados esta terça-feira, em Alcobaça e Vilar de Mouros, onde o mau tempo fez alguns estragos.

O tempo húmido de Setembro está a dar uma ajuda aos bombeiros, que nos últimos dias praticamente não têm tido trabalho. O ano está a correr bem para o país, quanto a fogos florestais. A área ardida entre 1 de Janeiro e 15 de Setembro é de 19.021 hectares, segundo o último relatório do Instituto para a Conservação da Natureza e Florestas. Desde 1980, só em 2008 ardeu menos: 17.565 hectares em todo o ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário