quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Massa de ar seco faz chuvas de verão se tornarem raridade



(O Globo) O carioca já está acostumado a encarar o sol durante o dia — desde que, à noite, ele seja recompensado por rápidas precipitações, as conhecidas chuvas de verão. Até agora, no entanto, elas não apareceram. Seu sumiço já é estudado em diversos países por climatologistas e testemunhado no Rio. Em janeiro de 2010, a cidade teve apenas quatro dias de chuva intensa. No mesmo período, em 2011, isso ocorreu três vezes. Em 2012 foram oito ocasiões e, no ano passado, sete.

O desaparecimento das chuvas nos últimos dias deve-se à formação de uma massa de ar seco no oceano, que se aproxima da costa brasileira. Ela deixa o céu claro e serve de obstáculo à passagem de frentes frias — que, no verão, provocam chuva. A influência deste sistema não é considerada anormal pelos meteorologistas, mas tem ocorrido com maior frequência, como mostra a escassez de chuvas de verão.

Climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), José Marengo atribui a falta das chuvas de verão às mudanças climáticas. A tendência é que as precipitações sejam cada vez mais dispersas e concentradas.

— A irregularidade das chuvas é uma consequência do aquecimento global — revela. — As precipitações serão mais intensas, especialmente nas áreas urbanas, e causarão deslizamento e enchentes, o que aumentará a vulnerabilidade de pessoas em área de risco.

O calor e o tempo seco do início do ano estão evaporando o excesso de água do início de dezembro, quando a pluviosidade foi acima da média. A previsão é que janeiro e fevereiro tenham um índice de chuvas abaixo do normal. Estima-se que em março, último mês do verão, haverá mais precipitações.

Oceano mais quente
O céu claro aumenta a radiação solar que chega à superfície do mar. Este fenômeno, assim como a maior circulação de ventos na atmosfera, forma um sistema de alta pressão sobre o Oceano Atlântico. Trata-se de uma grande massa de ar seco que chega ao litoral da Região Sudeste e impede a chegada de frentes frias e das chuvas.

— Como a radiação solar é intensa, as temperaturas sobem, assim como o índice ultravioleta — destaca Henri Pinheiro, meteorologista do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe). — Este índice é uma combinação entre a radiação e a cobertura de nuvens. Sua nota máxima é 14. Ultimamente ela tem sido registrada com frequência no Rio.

No fim de semana, a passagem de uma frente fria formada no oceano foi bloqueada por esta massa de ar seco. Daí vieram as nuvens, mas sem umidade suficiente para provocar chuvas.

— O ar quente, quando sobe, provoca a chuva de verão — explica Isimar de Azevedo Santos, professor de Meteorologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense. — Agora, no Sudeste, o movimento do ar está inverso. É um fenômeno que inibe as precipitações.

A frente fria, vinda do Sul do país, deveria chegar a Salvador, indo dali para o mar. Mas não conseguiu ultrapassar o Rio.

Meteorologista do Climatempo, Cesar Soares destaca que, por enquanto, as chuvas de verão ocorrem em poucas áreas do estado.

— Com essa massa de ar seco no caminho, as chuvas estão ocorrendo de forma mais localizada do que é esperado para essa época do ano — destaca. — As precipitações estão concentradas na Região Serrana, onde o ar quente, mais leve, consegue subir e causa nebulosidade. Ainda assim, em boa parte do estado não vemos ainda a formação das chuvas de verão clássicas.

Marengo ressalta que, até meados da semana que vem, o carioca terá novamente um refresco no fim da tarde.

— A frente fria é uma massa úmida que, no verão, traz sempre chuvas. Nas próximas duas semanas, ela deve furar o bloqueio do ar seco — acredita.

Diferentemente das regiões Sul e Sudeste, que serão cada vez mais afetadas por chuvas violentas, o Leste da Amazônia e o Sertão devem experimentar, nas próximas décadas, maiores períodos de seca, segundo prognósticos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas.

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