sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Mudança do clima pode aumentar em 50% a ocorrência de raios no mundo

'As tempestades elétricas ficarão mais explosivas', diz autor de estudo. O Brasil ocupa o 1º lugar na incidência de raios, com 57,8 milhões ao ano.


(G1) Um estudo de cientistas americanos, publicado na revista "Science", sugere que as mudanças climáticas farão crescer a ocorrência de raios em 50% até o fim deste século. A análise se baseia em medições de precipitação e flutuabilidade das nuvens, aplicadas a 11 diferentes modelos climáticos que estimam a elevação da temperatura no planeta até 2100.

"Com o aquecimento, as tempestades elétricas ficarão mais explosivas", afirmou à France Presse o climatologista David Romps, da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

"O aquecimento aumenta a concentração de vapor d'água na atmosfera e, se você tem mais combustível em volta, quando a ignição ocorre, pode ser das grandes", comparou.

Estimativas anteriores de como os relâmpagos seriam afetados pelo aumento das temperaturas usaram técnicas indiretas, sem ligação direta com as precipitações. O resultado foi uma faixa variando de 5% a 100% mais raios para cada grau Celsius de elevação.

A pesquisa atual se baseia na energia disponível para fazer subir o ar na atmosfera, combinada com as taxas de precipitação. A energia potencial disponível para convecção (ou Cape, na sigla em inglês) é medida por radiossondas, instrumentos colocados a bordo de balões meteorológicos. "A Cape é uma medida de quão potencialmente explosiva está a atmosfera", explica Romps. "Nós achamos que o produto da precipitação e a Cape ajudariam a prever (a ocorrência de) raios", continuou.

O Brasil ocupa o 1º lugar na incidência de raios, com 57,8 milhões de ocorrências por ano, seguido da República Democrática do Congo, com 43,2 milhões

Previsão dos raios
Usando dados do Serviço Meteorológico dos Estados Unidos, os cientistas descobriram que é possível prever 77% da incidência da descarga elétrica conhecendo as taxas de precipitação e o método Cape.

Quando os parâmetros foram aplicados nos modelos climáticos, os cientistas descobriram que cada grau Celsius a mais na média global da temperatura do ar pode representar cerca de 12% mais quedas de raios. Se as temperaturas aumentarem quatro graus Celsius até o fim do século, isto representaria um aumento de quase 50% na queda de raios.

Mais raios aumentam os riscos para as pessoas - que são feridas ou até mesmo mortas quando atingidas - e ainda podem causar um efeito devastador em florestas e espécies animais e vegetais. Uma maior ocorrência de descargas provocaria mais incêndios em áreas de mata seca, matando aves e outras criaturas silvestres, e ameaçando quem vive perto.

O Brasil ocupa o primeiro lugar na incidência de raios, com 57,8 milhões de ocorrências por ano, seguido pela República Democrática do Congo, com 43,2 milhões, pelos Estados Unidos, com 35 milhões, pela Austrália, com 31,2 milhões, China, com 28 milhões e Índia, com 26,9 milhões. Os dados são do Grupo de Eletricidade Atmosférica, o Elat, núcleo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Perigo que vem do céu
Levantamento feito pela organização, a partir de dados da Defesa Civil, do Ministério da Saúde e reportagens veículadas em jornais aponta que 2.640 pessoas de todo o país morreram atingidas por descargas entre 1991 e 2010.

No mesmo período, segundo o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, divulgado em 2012 pelo Centro universitário de estudos e pesquisas sobre desastres (Ceped), ligado à Universidade Federal de Santa Catarina, morreram 2.475 brasileiros vítimas de enchentes de deslizamentos de terra.

Os números de mortes por raios podem aumentar no futuro caso se eleve a incidência de raios no país, possibilidade que pode acontecer devido à urbanização e aos efeitos da mudança climática, provocada pelo aumento da temperatura global.

Cidades médias (500 mil habitantes) e grandes metrópoles poderão se tornar alvos frequentes de raios devido às ilhas de calor, fenômeno responsável pela sensação de abafamento e resultante do processo de adensamento urbano e impermeabilização do solo.

Materiais como asfalto, concreto armado, cimento e o excesso de prédios dificultam a circulação do ar, o que faz com que o calor se concentre em determinados pontos.


Raios ascendentes
A urbanização também pode provocar o fenômeno dos raios ascendentes, descargas que saem de objetos no solo e seguem em direção ao céu. Em São Paulo, por exemplo, esses "disparos" foram registrados várias vezes este ano no Pico do Jaraguá e na Avenida Paulista.

Os raios ascendentes foram identificados no Brasil pela primeira vez em 2012 e só existem devido à ocupação das cidades, que têm passado por um processo intenso de verticalização, com a construção de edifícios altos que ficam ainda maiores quando instalam-se no alto deles torres de transmissão de rádio e televisão.

Com isso, os “arranha-céus” ficam com tamanhos superiores a cem metros de altura e se tornam “berços ideais” para que o fenômeno ocorra.

O topo das torres de transmissão ou de energia, normalmente metálicas e com para-raios instalados, concentra uma alta carga elétrica negativa nas pontas. Quando uma nuvem de tempestade, carregada de partículas positivas, se aproxima desses pontos, pode promover uma interação que faz as partículas elétricas concentradas nas torres em terra liberarem uma descarga em direção ao céu. Esse raio chega a medir 2 km de comprimento e, quando encontra a base da nuvem de tempestade, forma ramificações que lembram raízes.

Ainda não se sabe sua potência e intensidade. Mas descargas elétricas normalmente atingem o solo com 100 milhões de volts. Já a intensidade da corrente de um raio é, em média, de 30 mil ampères. Para se ter uma ideia, essa corrente é mil vezes mais intensa do que a de um chuveiro elétrico.
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Matéria com infográfico e vídeo aqui
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